Consegui um emprego mais precisamente no interior de Santa
Catarina, a 600 km de distância da cidade em que resido. Peguei o ônibus e
sozinho fui para um lugar totalmente desconhecido.
Não me fixarei em detalhes porque se não vou longe. Vocês
provavelmente vão pensar: Porque ele tomou essa decisão? Ainda vou chegar lá.
Há momentos que nos deixamos levar por impulsos, ou melhor,
dizendo pela razão. A proposta de emprego era para eu atuar com audiologia
ocupacional e o salário inicial seria de R$ 2.000,00. Fiquei tentado com a
proposta e não pensei duas vezes, comprei as passagens e fui para o estado de
Santa Catarina.
Ao chegar numa cidade de 40.000 habitantes no estado
catarinense, conheci a clínica de fonoaudiologia que iria trabalhar, os
funcionários e os donos.
Fui muito bem recebido. Primeiramente conversei com a dona
da clínica, muito simpática disse que foi Deus que me colocou lá, que estava
preocupada porque na clínica dela todos são cristãos e que estava perdendo uma
fonoaudióloga de confiança para uma cidade vizinha e me explicou mais ou menos
como funcionavam os procedimentos na clínica.
Fiquei empolgado com a nossa conversa. Depois começamos a
procurar na internet em sites de imobiliárias imóveis com alugueis acessíveis.
Achamos um kitinete e fomos olhá-lo de perto. O espaço era grande com um
quarto, cozinha, banheiro e área de serviço.
A dona da clínica pediu que uma de suas funcionárias me
levasse para almoçar. Fomos a um restaurante perto do lugar que iria morar.
Almoçamos bem e depois retornamos para clínica.
De repente apareceu a fonoaudióloga que estava saindo da
clínica. Fui com ela até a sala onde são realizadas as audiometrias
ocupacionais e para a minha surpresa os exames tinham que ser preenchidos no
computador. A fono me explicou que teria que usar dois programas, o WinAudio e
o SOC. Peguei um bloco para anotar todos os detalhes, mas acabei escrevendo
"coisa com coisa" estava totalmente perdido e preocupado, pois os
procedimentos deles eram bem diferentes dos daqui da minha cidade e
proximidades onde realizo audiometrias em que só preciso me preocupar em fazer
a audiometria, o laudo, carimbar e entregar uma via para a pessoa e pronto.
Lá precisaria usar uns cinco tipos de carimbos e me ater
para os detalhes dos dois programas. Para mim era muita informação e como o
novo assusta eu estava apavorado, mas mesmo assim fui tranquilizado pela dona
da clínica e pela fono que estava saindo da clínica que nos primeiros meses é
assim e que depois eu "pegaria bem a coisa".
Um dos meus maiores problemas é "pegar a coisa".
Tenho uma demora, uma latência para entender, captar informações.
Voltando a falar sobre os exames, fui testado. Precisei
fazer uma audiometria numa funcionária da clínica e quanto a isso foi
tranquilo.
Depois de tudo isso os donos da clínica me levaram até o
terminal rodoviário onde peguei o ônibus para ir até a cidade próxima pegar
outro ônibus de volta para a minha cidade.
Cheguei à rodoviária pelas 18h00min, faltava uma hora e
meia para embarcar no ônibus. Nesse meio tempo me bateu uma tristeza e com ela
venho às indagações: Será que conseguirei ficar longe da minha cidade, da
família e dos amigos? Meu coração ficou apertado e eu não via a hora de voltar
pra casa.
Embarquei no ônibus e diferentemente da ida, conversei
muito pouco com quem dividiu o acento comigo. Não via a hora de voltar.
Pelas 04h00min da manhã acordo e vejo que estou na minha
cidade, fico feliz e digo: "agora estou em casa". Liguei para o meu
pai que me buscou na rodoviária e fomos pra casa. Isso foi num sábado.
No domingo fui ao culto, me despedi dos membros da
comunidade evangélica que frequento e fui pra minha mãe.
Pensava comigo: quando é que vou ver minha mãe de novo?
Quando cheguei a casa dela fui recebido com um abraço bem apertado. Meu coração
estava em pedaços!
Passei o dia lá e durante a tarde minha mãe, irmã e eu nos
sentamos na cozinha e conversamos. Procurei analisar tudo e percebi que não
aguentaria ficar longe de tudo e que se não desse certo na clínica teria que
indenizar à imobiliária, fora os imóveis que teria que me desfazer
depois.
Tomei uma decisão que não sei se foi a mais certa: A de não
ir mais embora. Depois de ter decidido parece que o peso do mundo saiu das
minhas costas.
Resolvi dormir na minha mãe, liguei para o meu pai a fim de
comunicá-lo sobre a decisão que tomei e ele muito gentil disse que isso deveríamos
conversar pessoalmente, porém dei uma noção sobre o que havia decidido.
No dia seguinte voltei pra casa e não tinha coragem de
conversar com o meu pai, mas mesmo assim fui e peguei ele numa situação sob
estresse. Disse que não iria mais embora e ele estupidamente respondeu que se
dependesse da vontade dele eu iria, mas isso só não vai acontecer por causa das
despesas que ele teria de arcar com um possível insucesso meu. No fundo, no
fundo meu pai não queria que eu fosse embora.
Enfim, como escrevi logo acima: se tomei a decisão certa só
o tempo irá dizer.
Abraço a todos!