quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Carta ao Pai - FRANZ KAFKA

Achei esse texto na internet e me identifiquei muito.
 
Acerto de Contas
 
É difícil imaginar que Franz Kafka, considerado um dos três escritores mais importantes do século XX (ao lado de Marcel Proust e James Joyce), pudesse se achar um fracasso. Pelo que se revela na carta que escreveu ao pai, Hermann Kafka, o escritor era uma pessoa indecisa, frágil e sem autoconfiança.
Em novembro de 1919, o autor do clássico A Metamorfose, levou dez dias escrevendo essa carta, mas nunca a enviou. O que Kafka não contava é que seu amigo Max Brod iria descumprir a promessa de destruir todos os seus escritos e acabar os publicando, para felicidade geral dos amantes da literatura. A carta recebeu o nome de Carta ao pai e só foi publicada em 1950, numa reunião das obras do autor.
Carta ao pai traz uma longa análise que Kafka faz de si mesmo, sempre buscando explicações a partir da difícil relação que teve com o pai. No exame do autor, seu pai é descrito como uma pessoa forte, fiel e trabalhadora, mas que de tanta segurança, acabou se tornando um tirano auto-suficiente, que desprezava as pessoas ao seu redor. Judeus, alemães, tchecos, empregados da loja e até os próprios filhos estavam no seu alvo. Suas opiniões eram as únicas que valiam, não precisava ouvir o que os outros tinham a dizer, estavam sempre errados, mesmo que condissessem com sua opinião.
Oprimido pela figura central do pai, a alternativa encontrada por Kafka foi fugir. Não de fato, mas aos poucos, para dentro de si. Tornou-se uma pessoa introvertida, desconfiada, com dificuldades de fazer amizades. Cresceu à sombra do pai, sabendo que não poderia corresponder às suas expectativas. Construiu toda sua vida em oposição ao pai, buscou seu espaço onde ele não pudesse lhe trazer lembranças nem suscitar comparações.
O escritor mostra como o pai foi responsável pelas suas atitudes que tanto os afastaram, seja através dos métodos educadores, ou da reprovação aos seus projetos de casamento. Sem eximir-se, porém, Kafka admite sua responsabilidade, pois reconhece as boas intenções do pai e, justamente por isso, desemboca num enorme sentimento de culpa que o faz se achar injusto por não conseguir uma aproximação.
O tom da carta é de acerto de contas, menos de vingança ou pedido de desculpas do que uma tentativa de reconciliação tardia. A intenção de Kafka não era de confrontar o pai, apenas de dividir com ele a responsabilidade pelo distanciamento dos dois. Escrita com o mesmo estilo intrincado dos seus romances, a carta revela alguns detalhes da intimidade familiar que refletiriam em sua obra. Em certo momento, ele afirma “Meus escritos tratam de você, neles eu expunha as queixas que não podia fazer no seu peito”.
Thiago Corrêa
lido em Nov. de 2005
escrito em 16.11.2005

Um comentário:

  1. oi ikki. quem dera se todos nós escrevêcemos aus nossos familiares, quem dera colocarmos em palta tudo aquilo que sentimos, todas as queixas que temos engasgadas na garganta. adoro frans cafca.

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