Com o passar do tempo passamos por mudanças que a vida nos impõe, seja
mudança de condição social, afetiva, comportamento, etc. Sempre fui uma pessoa
calma que dificilmente se exaltava a não ser quando pisavam nos meus calos aí
me descontrolava um pouco.
O fato é que passei por muitas situações complicadas e desde pequeno
sofri por ser uma pessoa "desligada", desatenta que ficava
"viajando" em sala de aula e que tinha dificuldades de reter
informações e cumprir ordens complexas. Por muitas vezes fui reprendido por não
conseguir fazer algo que parecia tão simples de forma correta. Sofri bastante,
foi doloroso!
Ouvia tudo e ficava calado, me sentia incompreendido e só, mas pelo
menos algumas pessoas conseguiam me compreender e até ficavam com pena de mim.
Quando estava na pré-escola precisei ficar mais um ano, pois não estava
apto para ingressar na primeira série devido à dificuldade motora (me fugiu a
palavra). Tinha dificuldade para abotoar casaco e amarrar os tênis. Fiquei mais
um ano e então passei para a primeira série.
Na primeira série tive que lidar com a dificuldade de escrever, escrevia
muito devagar e não conseguia acompanhar os demais colegas. A professora era um
anjo, pois sempre me tratava com muito carinho e ficava depois da aula copiando
o dever de casa no meu caderno.
Na segunda série era a mesma professora e esta sempre se colocou ao meu
lado me ajudando e com muito esforço passei para a série seguinte.
A minha vida escolar foi dramática, quem sabe contrate um desses
escritores para fazer a minha biografia, pois escrever é diferente de falar e
ao escrever acabo deixando de lado muitas coisas relevantes que aconteceram.
O que posso dizer é que nunca rodei de ano, mas passava com "as
calças nas mãos" e olhe lá. Sempre fazia as aulas de reforço que a escola
disponibilizava até que comecei a me tratar com uma psicopedagoga e um
psicomotricista que foram de grande valia para que conseguisse melhorar nos
estudos. Eles eram as muletas que auxiliavam a caminhar e graças aos dois
terminei o segundo grau e iniciei a faculdade.
A faculdade também não foi nada fácil e por muito tempo precisei lutar
sozinho, tirando forças não sei da onde para continuar. Quantas aulas escutava
os professores explicando a matéria e nada me entrava na cabeça enquanto isso
tinha colegas que iam bem nas aulas, participavam e eu no meu canto calado
tendo que lutar contra a minha dificuldade e contra mim mesmo.
Até então eu já presumia que poderia ter transtorno de déficit de
atenção, mas sem hiperatividade. As características batiam com as
situações vivenciadas por mim.
Os sintomas de TDAH que me acometem são: dificuldade para manter atenção
nas tarefas, dificuldade para terminar tarefas, dificuldades de organização,
distração e problemas de memória.
Na faculdade tive diversas reprovações que escondia do meu pai por medo.
Eu "maquiava" as minhas notas e depois fazia novamente as cadeiras
até que um dia a minha "mascara" caiu. O meu pai descobriu tudo e
tivemos uma séria discussão e ele perguntou o que iria fazer e eu respondi que
trancaria a faculdade.
Durante duas semanas tranquei a faculdade e fui atrás de emprego sem
saber que meu pai estava "costurando" o meu retorno à faculdade, mais
precisamente ao curso de fonoaudiologia.
Estava atrasado em relação aos demais colegas de curso e por isso
precisei fazer 8 cadeiras no semestre. Na época pensei que conseguiria passar
no máximo em 4.
Comecei a consultar com um psicólogo e uma psicopedagoga. Fiz algumas
avaliações que levaram ao diagnóstico de transtorno do déficit de atenção e
iniciei o tratamento.
Tudo ia bem até que por medo do meu pai e infantilidade da minha parte
deixei de passar o valor que os profissionais cobravam para fazer visita à
faculdade e falar com os meus professores.
E assim acabei perdendo a ajuda que tinha até então e passei a lutar
sozinho, estava me entregando à depressão quando pensei: Ou me entrego à
depressão, ou me apego a Deus. Optei pela segunda opção e me dei bem.
Foi uma batalha voraz, por tudo que tive que passar, mas consegui me
formar em fonoaudiologia. Às vezes paro pra pensar e não acredito que consegui
passar por tudo isso.
Atualmente não tenho condições de me tratar, mas assim que tiver vou
lutar e muito para melhorar. Sei que tenho capacidade e vou conseguir.
Abraço a todos!
Fiquei feliz de achar esse blog. Sei exatamente como você se sente... Sou distímico há pelo menos uns 12 anos mas só agora fui à um psiquiatra e fui diagnosticado. Vou seguir teu blog! Abraço e que tenhamos alegria de viver.
ResponderExcluir